O Brasil despencou no ranking do Fórum Econômico Mundial

Publicado originalmente no jornal Valor Econômico em 21/01/2019

 

Ao longo desta semana, as atenções estarão voltadas para a visita de Jair Bolsonaro a Davos, no encontro anual do Fórum Econômico Mundial. Será o batismo internacional do novo presidente brasileiro, diante de uma plateia de chefes de Estado e representantes de mais de 100 países, além de CEOs das 1.000 maiores companhias globais.

O Brasil é uma das maiores economias do mundo e tem um papel de relevo na geopolítica latino-americana, além de protagonismo no G-20 e entre os BRICS. Durante a campanha, contudo, Bolsonaro embarcou na onda populista, conservadora e nacionalista que varre a Europa e os EUA. Será, portanto, interessante observar como Bolsonaro traduzirá esse discurso para a elite econômica mundial, reunida num encontro que tem, como um de seus princípios, “aprimorar o diálogo entre governos, empresas e sociedade civil em prol do crescimento global inclusivo e sustentável”. Aliás, o tema deste ano é “Globalização 4.0 – Adaptando a Arquitetura Global na Era da 4ª Revolução Industrial”.

Por mais paradoxal que seja, no entanto, o maior desafio da ida de Bolsonaro a Davos será convencer o mundo sobre o que ele fará na sua volta ao Brasil. Afinal, segundo a métrica do próprio Fórum Econômico Mundial, a situação brasileira se deteriora rapidamente frente a seus parceiros e concorrentes internacionais.

(Davos – Suíça, 22/01/2019) Presidente da República, Jair Bolsonaro durante Sessão Plenária do Fórum Econômico Mundial. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

De acordo com o Índice Global de Competitividade, indicador construído pelo instituto que organiza o encontro de Davos com base em estatísticas oficiais e em entrevistas com os mais poderosos CEOs do mundo, o Brasil despencou da 48ª posição em 2013 – seu melhor desempenho – para o 80º lugar em 2018 (ver gráfico abaixo). Em apenas 5 anos, fomos ultrapassados por 32 países, incluindo, sem demérito, o Tajiquistão e a Albânia.

As explicações para termos sido o país que mais perdeu posições no ranking no último quinquênio estão na nossa própria incompetência e também no mérito da concorrência. Enquanto nos afundamos numa crise fiscal e política que nos lançou numa das maiores recessões da história, países como Índia, Botswana e Colômbia implementaram importantes reformas que tornaram suas economias mais abertas e melhoraram o ambiente de negócios.

O indicador do Fórum Econômico Mundial, composto por 12 dimensões, revela que o mau desempenho brasileiro é observável tanto em nível macro quanto microeconômico. A irresponsabilidade fiscal da famigerada Nova Matriz Econômica, com o abandono da política de geração de superávits primários, nos custou 62 posições no item “ambiente macroeconômico” – nosso pilar mais fraco atualmente.

Por outro lado, a paralisia dos sucessivos governos em implementar uma ampla reforma microeconômica para impulsionar a produtividade explica nossos resultados ruins quanto à eficiência nos mercados de bens e de trabalho. Para completar, a turbulência política dos últimos anos – com Operação Lava Jato, impeachment e várias denúncias enfraquecendo o governo Temer – levou o Brasil a perder várias posições no quesito “instituições”.

No final do ano passado, o Fórum Econômico Mundial lançou uma nova versão do seu ranking, buscando refletir as novas demandas geradas pela 4ª Revolução Industrial.

Nesse índice 4.0, como vem sendo chamado, o Brasil melhora um pouco sua colocação: salta da 80ª para a 72ª colocação. Nossas mazelas, porém, continuam em evidência, tanto em termos de instabilidade macroeconômica quanto ao fraco dinamismo dos mercados.

No seu retorno ao Brasil, Bolsonaro terá diante de si a abertura do ano legislativo. Passada a festa da posse e o frisson das nomeações de primeiro e segundo escalão, é hora de governar. E para colocar as finanças em ordem e destravar as amarras do investimento e da inovação, o novo governo precisará enfrentar poderosos interesses cartoriais e corporativos que dificultam a aprovação de reformas. Sem elas, continuaremos condenados às posições mais baixas dos rankings internacionais.