Economia comportamental oferece medidas de fácil implementação para aumentar adesão à vacina
Por Bruno Carazza
Dados do Ministério da Saúde indicam que em torno de 1,5 milhão de pessoas ainda não apareceu para tomar a 2ª dose da vacina contra covid no Brasil.
A notícia não surpreende. Quantas vezes abandonamos dietas, tratamentos de saúde e a prática de exercícios físicos por comodismo, perda de interesse ou até mesmo esquecimento?
A grande diferença, no caso da vacinação, é que falhas de comprometimento com a vacinação podem gerar prejuízos não só individuais, mas também coletivos, pois quanto menos pessoas se imunizarem corretamente, mais tempo vai demorar para chegarmos à tão desejada imunidade de rebanho.
A boa notícia é que com pequenas ações, de fácil implementação e baixíssimo custo, os governos federal, estadual e municipal podem trabalhar com nossos vieses e predisposições psicológicos para mudar essa estatística da baixa adesão à segunda dose.
Basta adotar os “nudges”, pequenos “cutucões” prescritos pela Economia Comportamental para estimular mudanças de postura das pessoas. Aí vão algumas dicas:
1) Muitos municípios têm os contatos telefônicos de boa parte dos cidadãos inscritos nos seus Programas de Saúde da Família. Nesse caso, enviar mensagens por SMS ou whatsapp lembrando-os da data de aplicação da 2ª dose poderia ter um efeito bastante significativo.
2) Tais mensagens tender a ser mais eficientes se instigarem o senso de competição entre as pessoas, como por exemplo: “X cidadãos em nosso município já tomaram a 2ª dose. Você vai ficar para trás?”
3) “Mimar” o cidadão que for tomar a 2ª dose com pequenos agrados, como uma flor, uma guloseima ou até mesmo um cartão de felicitações pode estimular bastante a adesão ao programa de vacinação.
4) Estimular as pessoas que forem vacinadas pela 2ª dose a postarem fotos nas redes sociais segurando um pequeno cartaz com dizeres como “Vacinado(a) com a 2ª dose” poderia criar um efeito demonstração muito significativo.
5) Já pensou ir tomar a segunda dose e sair do posto de saúde milionário? Richard Thaler, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2017 por seus estudos sobre economia comportamental sugeriu que os governos deveriam distribuir um bilhete de loteria para todos aqueles que forem vacinar. A simples perspectiva de ter uma chance (ainda que ínfima) de ficar rico poderia aumentar bastante a taxa de retorno das pessoas aos postos de vacinação.
6) Muitos países estão desenvolvendo o “passaporte de vacinação”, que garante acesso a bares, restaurantes e eventos como shows e jogos esportivos para quem receber as duas doses de imunização. Já pensou instrumento mais poderoso para as pessoas se animarem a vacinar do que receber um cartão que lhe dará direito a sentir de volta os prazeres de uma vida normal?
Políticas públicas como a vacinação podem ser muito mais efetivas se levarem em conta os aspectos psicológicos que afetam nossas ações. Com um pouco de criatividade (e o estudo de Economia Comportamental) podemos chegar a resultados bastante poderosos. Fica a dica (ou a “cutucada”)!
