Disputa no partido Democrata se afunila entre Biden e Sanders

Por Bruno Carazza

 

Duas tabelas e um mapa que explicam os resultados da Super Tuesday e como a definição das primárias em 14 Estados pode definir os rumos da eleição presidencial de 2020 nos Estados Unidos.

Conforme os resultados parciais indicam, a disputa entre os Democratas parece estar se afunilando entre Joe Biden e Bernie Sanders. Isso representa não apenas um confronto entre moderados e progressistas, mas principalmente um embate entre elegibilidade (ou seja, a escolha daquele que tem maior chance de bater Trump, representado por Biden) versus desejo de mudança no status quo da política americana (da qual Sanders é o principal representante).

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Fonte: The New York Times.

Apesar de ter gastado quase meio bilhão de dólares de seu próprio patrimônio na campanha das primárias (ver gráfico abaixo), o péssimo desempenho do ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg mostra que dinheiro é condição necessária, mas não suficiente, para vencer uma eleição.

Além disso, o fato de Biden estar liderando a corrida após a Super Tuesday mesmo apresentando a menor das arrecadações entre os democratas reforça a tese de que o controle da estrutura partidária ainda conta bastante para o desempenho eleitoral.

Porém, se Bloomberg realmente desistir da disputa e decidir apoiar Biden (o que faz todo o sentido, pois ambos são da ala moderada do partido), teremos uma combinação quase infalível entre dinheiro de campanha (vindo de Bloomberg) e estrutura partidária (dominada por Biden, um velho membro do partido, que exerceu a vice-presidência dos EUA durante o governo de Barack Obama).

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Fonte: Federal Election Commission.

Com relação aos resultados da Super Tuesday, o mapa abaixo mostra que Biden dominou os estados do Sul do país, enquanto Sanders abocanhou a maioria dos votos no Meio-Oeste (Utah e Colorado) e na Califórnia. Dadas as características demográficas desses Estados, esse panorama reforça a tese de que Biden atrairá os votos dos negros e Sanders dos hispânicos e brancos progressistas.

Porém, o sucesso de Biden no Texas (onde o eleitorado hispânico é muito grande) e em Massachussetts e Minnesota (Estados majoritariamente brancos) parece indicar que a maré está virando a favor do ex-vice de Obama e que, contra todos os prognósticos iniciais, Biden pode se dar bem também no centro dos EUA e na região da Nova Inglaterra.

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Fonte: The New York Times.

Eleições são sempre muito complexas, e na maior economia do mundo talvez seja ainda mais. Seu rumo depende de uma complicada combinação de dinheiro, demografia, ideologia, estrutura partidária e estratégia.

Neste momento, com os resultados da Super Tuesday, Biden ressurge das cinzas, numa aposta de que a moderação pode ser a arma escolhida pela maioria dos eleitores do partido Democrata para bater Trump em 03 de novembro.