Contagem de palavras indica as prioridades da agenda do pré-candidato Sergio Moro

Por Bruno Carazza.

 

Moro se filiou hoje ao partido Podemos com um longo discurso em tom de campanha presidencial. Esta é a nuvem de palavras da transcrição do discurso. Na análise abaixo, compartilho alguns insights que tive ao computar apenas a contagem de palavras.

Tirando preposições, conjunções, artigos, etc., a palavra mais usada por Moro no discurso foi “projeto” (24 vezes). “Brasil” e “país” vieram logo atrás, com 23. Isso é um sinal de que há poucas dúvidas de que seu objetivo nº 1 é concorrer à Presidência em 2022 (e não ao Senado, como muitos apostam).

Moro usou “política” ou “político(s)” 18 vezes. Isso demonstra o malabarismo que teve de fazer para justificar a decisão de virar político e se filiar a um “partido” (6 menções), já que ele sempre negou a admiti-lo na Lava Jato. Certamente seus adversários irão cobrá-lo bastante por essa guinada na campanha.

Apesar de dizerem que sua candidatura não será um “samba de uma nota só”, Moro insiste em temas como “corrupção” (18 vezes), justiça (15), lei (8), Lava Jato (7) e juiz (7). É compreensível que seja assim, pois essas são as suas credenciais e o seu histórico, mas será um risco ficar batendo nesta tecla insistentemente ao longo da campanha.

Outra coisa que fica clara na contagem de palavras é que Moro mira o eleitor de Bolsonaro, dando muita ênfase à palavra “crime” (10 vezes) e referências a família (5) e militar/Forças Armadas (3 vezes) – todos temas caros ao bolsonarista-raiz. Moro também acena aos evangélicos, mas com o cuidado de falar religiÕES (no plural, duas vezes), embora não tenha passado batida uma menção explícita a “cristãos”.

Moro também parece querer se diferenciar dos tucanos, que falam muito de “economia” (a palavra apareceu apenas 4 vezes no discurso), ajuste “fiscal” (2x), “teto” (2x) de gastos, etc. Pode ser falta de familiaridade com temas econômicos, mas pode ser também uma orientação para evitar assuntos áridos para o eleitor. Outro indício de direção na área econômico: Moro fala em “reforma”/”reformar” 9 vezes, mas não cita explicitamente nem a reforma tributária e nem a administrativa. Aliás, a palavra “liberal” não aparece em nenhum momento do discurso. Moro aponta querer distância de Guedes e de seu discurso neste início de campanha.

Como bom político em época de eleição, Moro chama a atenção para os efeitos sociais da crise econômica: “emprego/desemprego” aparecem 12 vezes no discurso e “pobreza” 8 vezes. “Inflação” recebeu 3 citações. Aqui ele aponta para os efeitos, mas não trata de soluções – assuntos que ele prefere deixar para mais à frente na campanha.

Moro dá bastante atenção ao tema ambiental (são 4 parágrafos do discurso) e de educação básica (“escola” e “educação” aparecem 14 vezes na sua fala). Depois de uma pandemia (3 citações), notei que foram poucas as menções ao tema da saúde (3 vezes só).

O ponto mais crítico do discurso, na minha opinião, é o fato de um candidato que pretende representar uma alternativa para o Brasil falar tão pouco em “desigualdade” (duas vezes apenas) e “democracia” (também só duas citações). Moro também não faz NENHUMA referência a “mulher”, “preto” ou “negro”, as grandes “maiorias desfavorecidas” do país, e em torno das quais deveriam ser pensadas políticas públicas de educação, inserção no mercado de trabalho, transporte público, segurança, etc.

Projeto de país que não envolva essas dimensões não é projeto.