As lições de um vendedor de rua em NY

Por Bruno Carazza

 

A história de Mohamed Attia, 32 anos, tem várias lições sobre as relações entre direito, economia e política.

Egípcio, emigrou para os EUA em 2008 apenas com o visto de turista. Ficou por lá ilegal, até que conseguiu emprego como vendedor de um carrinho de comida árabe (os famosos halal food) em Nova York. Um casamento com uma americana ajudou na obtenção do green card anos depois.

Com muito esforço, Mohamed e um amigo conseguiram economizar para conseguir a licença para ter o seu próprio carrinho de comida. A prefeitura de NY disponibiliza apenas 5.000 licenças para food trucks, e seu valor oficial, que é de US$ 200, salta para US$ 20.000 no mercado secundário.

Cansado de lidar com as constantes multas aplicadas pelos fiscais da prefeitura, Mohamed Attia decidiu aderir ao Street Vendor Project, uma associação que defende os interesses de vendedores de rua em NY, a maioria deles imigrantes como ele próprio.

Vendedores de halal food nas ruas de Nova York. Foto: Paul Sableman (Creative Commons)

Mohamed se sentiu tão bem acolhido pelo grupo, que hoje é o seu diretor. No seu dia-a-dia, Attia tem que exercer suas habilidades de comunicação, valendo-se das redes sociais para defender sua categoria, fazendo corpo-a-corpo com políticos e líderes de outras organizações e botando a boca no trombone junto à imprensa quando algum associado é vítima de alguma arbitrariedade.

Na agenda política do Street Vendors Project para 2020 está o apoio a uma proposta em tramitação na Câmara Municipal (City Council) e na Assembleia Legislativa (State Legislature) de acabar com os limites quantitativos para a emissão das licenças para o comércio de rua. Se for aprovada, qualquer um poderá ter seu próprio negócio nas ruas da maior metrópole americana, como já acontece na Califórnia.

Para tanto, além de tentar convencer os políticos sobre os méritos da sua proposta, Attia precisa lidar com inúmeros adversários. Em primeiro lugar, as associações das lanchonetes e restaurantes, que não querem a concorrência de mais food trucks no mercado. Há ainda a resistência dos condomínios e do comércio local, que consideram que ambulantes desvalorizam a sua vizinhança. Por fim, ele acredita que existe um forte preconceito da população em geral contra os imigrantes.

Mas Mohamed é um otimista. Tanto que foi selecionado para o Seeding Power, um projeto que distribui uma bolsa de estudo de 18 meses para formar líderes do mercado de alimentação em NY. O objetivo desse movimento é estimular uma cadeia produtiva mais justa, ecologicamente responsável e economicamente robusta. Justamente os mesmos objetivos compartilhados por Mohamed Attia.

Você pode ler a história de Mohamed Attia com maiores detalhes na excelente reportagem de Rachel Warthon para o New York Times publicada em 03/02/2020:

https://www.nytimes.com/2020/02/03/dining/nyc-food-cart-vendors-rights-mohamed-attia.html