Movimentos dos eleitores definirão o destino dos candidatos

Por Bruno Carazza. Publicado originalmente no jornal Valor Econômico em 26/09/2022.

 

Está acabando – ou não. A esta altura do campeonato, qualquer movimento dos eleitores poderá definir se haverá mesmo necessidade de um segundo turno. A depender da postura dos candidatos até domingo, daqui a uma semana estaremos discutindo o futuro governo de Lula ou, pelo contrário, as conversas girarão em torno da capacidade de Bolsonaro reverter a desvantagem numa segunda votação no dia 30/10.

Os principais competidores entram na derradeira volta com diferentes velocidades, ânimos e objetivos.

Empolgada com os últimos resultados das pesquisas, que indicam uma ampliação de sua vantagem na liderança, a equipe de Lula sonha com a vitória já no próximo domingo.

Bolsonaro, por sua vez, aposta mais no olho do que nos medidores para aferir sua distância em relação ao representante da escuderia vermelha, e com isso tenta a todo custo manter sua torcida empolgada, ao mesmo tempo em que promete acelerar na reta final.

Ciro Gomes e Simone Tebet, embora não reconheçam publicamente, sabem que a vitória é impossível, mas brigam pelo terceiro lugar no pódio. A depender da distância que ficarem dos dois primeiros colocados, poderão sonhar continuar frequentando o pelotão de frente da política brasileira no futuro.

Brincadeiras automobilísticas à parte, olhando em retrospecto, não há mudanças bruscas entre as intenções de voto e o resultado das urnas na última semana das eleições brasileiras desde 1994 (veja o gráfico).

A única exceção aconteceu em 2014, mas teve como foco a disputa pelo segundo lugar: nos últimos sete dias da campanha, Aécio Neves cresceu de 20% para 24%, ultrapassando Marina Silva, que caiu de 25% para 22%.

Quando tratamos de liderança, os prognósticos dos institutos de pesquisa sempre foram confirmados nas urnas.

A notícia ruim para Lula é que entre 1994 e 2014 os líderes sempre tiveram um desempenho eleitoral inferior ao que as pesquisas acusavam nas vésperas da eleição – e a única vez em que isso não aconteceu foi justamente com Jair Bolsonaro em 2018.

Para liquidar a fatura no próximo domingo, portanto, Lula precisa de um impulso que ele próprio não foi capaz de realizar em 2002 e 2006 – anos em que as pesquisas apontavam uma possibilidade real de vitória no primeiro turno, mas o último movimento dos eleitores foi na direção contrária, levando a uma nova votação, contra José Serra e Geraldo Alckmin, respectivamente.

Com Bolsonaro estacionado nas pesquisas e o número reduzido de indecisos, Lula concentrará seus esforços nesta última semana para tentar o voto dos eleitores de Ciro Gomes e de Simone Tebet – e isso não será fácil.

Tendo adotado a postura cautelosa de faltar ao debate de sábado à noite transmitido pelo SBT e pela CNN Brasil, o ex-presidente foi duramente atacado por todos os seus rivais, principalmente em relação às denúncias de corrupção durante os governos do PT.

As imagens do púlpito vazio e as falas contundentes dos adversários serão exploradas na propaganda eleitoral, nas redes sociais e nos grupos de Whatsapp e Telegram nos próximos dias.

No principal evento desta semana, o debate na Rede Globo na noite de quinta-feira, Lula pode contar como certa a oposição agressiva não apenas de Bolsonaro, mas também de Ciro Gomes, cada vez mais engajado na campanha de ataque à imagem do petista.

Repetindo a sina de 1998, 2002 e 2018, a campanha de Ciro perde ímpeto nos momentos finais, com o candidato perdendo o autocontrole e se enrolando a cada declaração. No debate do SBT e da CNN, Ciro perdeu mais tempo criticando a esquerda e seus adversários (principalmente Lula) do que apresentando suas propostas.

Atitude oposta teve Simone Tebet, que se mostrou muito mais bem preparada para o debate, adotando um tom propositivo raro de se ver nesta campanha. Caso repita seu desempenho na Rede Globo, será mais difícil para Lula roubar votos úteis de Tebet do que de Ciro.

Num último esforço, estão em curso duas batalhas diferentes. Enquanto Lula e Bolsonaro disputam a batalha dos turnos, na disputa pelo terceiro lugar Simone e Ciro se digladiam para tentar continuar relevantes até 2026.

Na disputa pelo voto útil, esses dois combates se comunicam.