Sobram nomes e falta espaço para coalizão de Lula

Por Bruno Carazza. Publicado originalmente no jornal Valor Econômico em 14/11/2022.

 

As bolsas de apostas quanto aos nomes de ministeriáveis estão frenéticas desde que o Tribunal Superior Eleitoral declarou Luiz Inácio Lula da Silva vencedor do pleito presidencial.

Montar um ministério não é tarefa fácil pra ninguém, dada a necessidade de contemplar, com posições de destaque, parceiros e correligionários de longa data, técnicos respeitados e representantes de partidos que comporão sua base de governo.

No caso específico do terceiro mandato de Lula, a tarefa é ainda mais difícil, por circunstâncias próprias do momento político vivido pela esquerda e, em especial, pelo Partido dos Trabalhadores.

Depois de tudo o que passaram desde a Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de Lula, o retorno ao poder representa o momento de premiar quem se manteve fiel durante a travessia do deserto.

Muitos são os petistas que se sentem credores do apoio concedido a Lula ao longo dos últimos anos e se julgam merecedores de um lugar no primeiro escalão do governo.

A lista do PT é extensa. Pelo papel que exerceram na campanha, Gleisi Hoffman, Aloisio Mercadante, Edinho Silva e Alexandre Padilha têm cotações elevadas no mercado para se tornarem ministros.

Lula precisará ainda equilibrar uma base mais sólida no Senado com bons articuladores ao seu lado no Executivo. Nesse sentido, os senadores Jaques Wagner, Wellington Dias, Humberto Costa e Camilo Santana esperam a definição sobre em qual lado da Praça dos Três Poderes eles se instalarão a partir de 01/01/2023.

O futuro presidente também terá que recompensar petistas sacrificados nas eleições estaduais, assim como acomodar quadros importantes do partido que saíram derrotados nas urnas.

No grupo dos que colocaram seus objetivos pessoais de lado em nome das alianças regionais do PT encontram-se os governadores Rui Costa e Izolda Cela, o senador Jean-Paul Prates e o deputado Reginaldo Lopes. Entre os candidatos derrotados, Fernando Haddad e Jorge Viana são presença certa no Diário Oficial no primeiro dia útil do governo Lula 3.

A volta ao Palácio do Planalto é a oportunidade de ouro para o PT fazer a transição para um futuro sem Lula. E com tantas opções, é duvidoso esperar que o partido abrirá mão dos principais postos da Esplanada dos Ministérios.

Depois dos discursos da semana passada, fica cada vez mais claro que Lula pretende repetir 2002 indicando petistas para a Fazenda e o Planejamento (Rui Costa, Padilha, Haddad e Wellington Dias são os mais comentados). Dada a centralidade que costumam ter na execução da política econômica petista, as presidências e diretorias de Petrobras, BNDES, BB e Caixa certamente entrarão neste pacote também.

Na área social, dificilmente o PT renunciará às joias da coroa, Educação e Saúde. E naturalmente controlará também as pastas da articulação política, como Casa Civil e as secretarias palacianas com status de ministério. Até o Itamaraty poderá ser utilizado para abrigar algum petista graduado.

Acontece que a eleição disputadíssima travada com Jair Bolsonaro exigiu a formação de uma ampla frente de apoio a Lula. E essas forças precisarão ser contempladas na nova composição ministerial.

Partido que costurou a aliança com Geraldo Alckmin, o PSB se sente credor e coloca na mesa nomes fortes. O senador eleito Flávio Dino é cotadíssimo para a Justiça, mas a sigla quer mais. Afinal, o governador pernambucano Paulo Câmara desistiu de concorrer ao Senado em nome da petista Teresa Leitão. E o próprio Alckmin tem cacife de sobra para indicar seus apadrinhados, a começar por Márcio França, que é um coringa que pode ser escalado para várias posições.

Ainda entre os membros da coligação, Marina Silva é pule de dez como a representante da Rede no Ministério do Meio-Ambiente ou em uma eventual Autoridade Ambiental. Guilherme Boulos é forte candidato ao ministério das Cidades, embora haja quem acredite que para sua carreira seja melhor continuar na Câmara dos Deputados – de toda forma, o Psol tem crédito para indicar um representante no ministério.

Para além da esquerda, Simone Tebet e André Janones foram essenciais para garantir a vitória de Lula. A senadora emedebista se julga merecedora de um posto de grande visibilidade, como o ministério que tocará o novo Bolsa Família e outras políticas sociais, enquanto Janones sonha em manter sua influência sobre a estratégia de comunicação do Planalto.

Para adicionar ainda mais complexidade ao quebra-cabeças, o baixo número de cadeiras obtidas pela coligação de Lula nas urnas (apenas 136 deputados e 15 senadores) exigirá uma negociação com partidos da centro-direita, como MDB, PSD e União Brasil, a fim de se ter condições mínimas de governabilidade.

Para atrair esse bloco para sua base, não adianta oferecer os ministérios da Cultura, das Mulheres, da Igualdade Racial ou dos Povos Originários – esses devem ser ocupados por personalidades da cultura, da academia ou de movimentos sociais.

Os caciques do MDB, PSD e União Brasil querem órgãos com influência, estrutura, cargos e, principalmente, orçamento. Com as principais pastas da área econômica, social e política asseguradas para petistas e seus aliados de primeira hora, as demais lideranças políticas e os representantes do mercado ficam de olho num número restrito de ministérios.

Lula deve acenar para o empresariado com a nomeação de representantes da indústria e do agronegócio no Desenvolvimento e na Agricultura, enquanto os partidos de sua futura base ampliada (MDB, PSD e União Brasil) devem repartir entre si ministérios que administram fatias expressivas do Orçamento Público ou regulam setores importantes da economia, como Infraestrutura, Desenvolvimento/Integração Regional, Minas e Energia, e Comunicações.

Para fechar a composição, Lula tem a imensa responsabilidade de indicar quem ficará à frente dos ministérios da Defesa e da Segurança Pública, que terão que apaziguar os ânimos de militares e forças policiais, grupos fechados com Bolsonaro.

É muita gente para agradar e muito abacaxi para descascar na montagem do ministério de Lula.