Mesmo com a proibição de doações de empresas, os poderes político e econômico ainda são determinantes para decidir quem tem mais chances de ser eleito no Brasil

Por Bruno Carazza, especial para o Nexo Jornal.

 

Em 2018, Thais Ferreira concorreu pela primeira vez numa eleição. Mulher, jovem, preta, moradora de uma comunidade do Rio de Janeiro, ela tentou uma vaga na Assembleia Legislativa fluminense.

Naquela ocasião, a campanha de Ferreira arrecadou R$ 73.661,75. Desse total, apenas R$ 2.154 (menos de 3%) vieram do seu partido, o PSOL. O restante foi obtido junto a pessoas físicas, inclusive recorrendo a “vaquinhas virtuais”. Mesmo realizando uma campanha relativamente barata, Ferreira obteve 24.759 votos e quase foi eleita, tendo ficado como primeira suplente de sua coligação.

Animada com o resultado das eleições anteriores, Ferreira se lançou candidata novamente em 2020, desta vez para o cargo de vereadora na capital fluminense. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral, a 12 dias das eleições, a candidata do PSOL não recebeu nenhum centavo de seu partido, mesmo sendo mulher e negra — os dois grupos sociais que, por determinação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), deveriam ser especialmente contemplados com recursos públicos distribuídos a cada legenda.

Thais Ferreira é só mais um exemplo, entre milhares, das distorções do sistema de financiamento eleitoral no Brasil — um sistema que reproduz desigualdades e erige barreiras à renovação da política desde a redemocratização, a despeito das bem intencionadas tentativas recentes de mudança.

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