Empresários e banqueiros continuam escolhendo seus eleitos

Por Bruno Carazza. Publicado originalmente no jornal Valor Econômico em 25/07/2022.

 

“Eu procurava atender aos pedidos de partidos e políticos, em período eleitoral ou não, porque esperava criar um reservatório de boa vontade para obter contrapartidas para as minhas empresas”. A frase é de Joesley Batista, da JBS, que injetou mais de R$ 750 milhões (valores atualizados pelo IPCA) no financiamento oficial de campanhas eleitorais entre 2002 e 2014.

À parte o mérito empresarial, não há dúvidas que o pesado investimento da família Batista na política gerou dividendos em termos benefícios tributários, volumosos empréstimos subsidiados de bancos oficiais e flexibilização da regulação fitossanitária que ajudaram o pequeno frigorífico a se tornar a maior empresa produtora de proteína animal do mundo.

Ao proibir as contribuições empresariais em 2015, o Supremo Tribunal Federal imaginou que estaria eliminando a influência do dinheiro na política brasileira. Seu trabalho, porém, ficou incompleto. Ao manter a possibilidade de pessoas físicas doarem até 10% de seus rendimentos para campanhas, o STF deixou a porta aberta para que a elite econômica continue elegendo seus candidatos preferidos a cada ciclo eleitoral.

Seja por interesse em influenciar a política em favor de seus negócios ou por preferência ideológica, muitos milionários brasileiros continuam investindo quantias consideráveis nas eleições. A diferença é que, impossibilitados de utilizar o CNPJ de suas empresas, agora eles participam do jogo do poder com seus próprios CPFs.

Nas eleições passadas, Rubens Ometto (Cosan) foi o maior doador individual, despejando R$ 7,3 milhões em campanhas de dezenas de candidatos, sendo seguido por Fernando de Castro Marques, da União Química, com R$ 5,6 milhões. A família Rocha, do grupo Riachuelo, tem três integrantes no topo dos dez maiores (Lisiane, Nevaldo e Élvio), que juntos doaram mais de R$ 11,2 milhões.

É verdade que o volume total de dinheiro privado caiu bastante com a proibição de participação das empresas, mas ele continua a fazer muita diferença individualmente. Boa parte dessas doações milionárias continua fluindo para a conta de políticos tradicionais, no mesmo modelo de negócios já implementado por Joesley, Marcelo Odebrecht, Eike Batista e tantos outros figurões do capitalismo de compadrio brasileiro.

A novidade dos últimos tempos é que as doações vindas do CPF dos multimilionários têm servido para contornar a barreira à entrada erigida na política brasileira com a criação do fundão eleitoral. Graças ao apoio de grandes empresários e banqueiros, muitos candidatos novatos conseguiram amealhar um volume total de recursos suficiente para bancar uma campanha cara, principalmente com a produção e o impulsionamento de conteúdo nas redes sociais.

A Faria Lima mergulhou de cabeça na onda da renovação da política em 2018. Formados por entidades como RenovaBR, Acredito e Raps, jovens como Vinicius Poit, Tabata Amaral, Marcelo Calero e Felipe Rigoni se elegeram graças ao patrocínio de gestores de recursos e investidores como José Carlos Reis Magalhães Neto (Tarpon), Patrice Etlin (Advent), Daniel Goldberg (Farallon), Cláudio Amadeo (Jus Capital) e Roberto Lombardi, entre outros (ver tabela).

Nomes tradicionais do empresariado brasileiro, como Carlos Jereissati (R$ 3,3 milhões), Abílio Diniz (R$ 1,5 milhões) e os mineiros Salim Mattar (R$ 3,7 milhões) e Rubens Menin (R$ 2,5 milhões) também exerceram um protagonismo importante – os dois últimos, inclusive, foram fundamentais no financiamento de candidatos do partido Novo, do governador Romeu Zema aos deputados federais Tiago Mitraud e Lucas Gonzalez.

Salim Mattar, da Localiza, um dos maiores doadores privados nas eleições brasileiras em 2018 e 2022.

Mesmo entre os bolsonaristas esse processo de ter grandes empresários apadrinhando novatos também se verificou. Carla Zambelli, por exemplo, elegeu-se contando com polpudas contribuições do construtor Tomé Abduch (também presidente do movimento “Nas Ruas”), do dono da Smart Fit, Edgard Corona, e do fazendeiro Eduardo de Paula Machado.

Na onda da pseudo-renovação da política brasileira de 2018, ter bons contatos com a elite econômica brasileira foi a receita de sucesso seguida por muitos que não tinham acesso aos milhões do fundo eleitoral, não era parente de político tradicional e não possuía capital suficiente para bancar a campanha com recursos do próprio bolso.