Cenário aponta mudança de método na negociação de apoio entre governo e partidos políticos

Batizada de orçamento secreto, a distribuição de recursos do Orçamento Federal por meio das chamadas emendas de relator alterou o modo como o governo brasileiro e os partidos negociam apoio político. Ao mesmo tempo em que passou a destinar mais recursos nos últimos três anos para emendas parlamentares e ampliou a participação do Centrão em sua gestão, o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) reduziu, na comparação com seus antecessores, a presença de filiados a legendas em cargos comissionados do alto escalão da administração federal, tradicionalmente uma das principais moedas de troca com as siglas.
A mudança de cenário foi detectada em um levantamento feito pelos pesquisadores Sérgio Praça, da Escola Superior de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV/CPDOC), e Karine Belarmino, da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. Os dados apontam que, dos quase quatro mil indicados em altos cargos comissionados em dezembro de 2021, 9% tinham alguma vinculação a legendas, mesmo percentual registrado em 2020.
Professor da Fundação Dom Cabral e autor do livro “Dinheiro, eleições e poder: as engrenagens do sistema político brasileiro”, Bruno Carazza também chama a atenção para o protagonismo de Lira na negociação com as legendas e aponta que Bolsonaro, apesar da aproximação com o Centrão por meio de outras vias, deve usar a pouca participação dos partidos em cargos como ativo eleitoral, em discurso semelhante ao de 2018.
— O Centrão estabelece a pauta e toca o governo. Quando Bolsonaro veta algum ponto, porque tem impacto fiscal ou vai contra a política econômica, ele veta já sinalizando para o Congresso derrubar o veto. As principais moedas de troca, como ele não não abriu o governo para o embarque completo dessas siglas nos cargos, são o orçamento secreto e a condução da própria agenda do governo no Congresso.
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