Universidade de São Paulo, 12/09/2019

O modelo de enfrentamento ao crime aplicado no Brasil está totalmente esgotado e, na prática, retroalimenta a criminalidade das ruas a partir de lideranças em presídios. Pelo menos metade dos presos do país cometeu delitos considerados menos graves, como furto ou receptação. Na cadeia, eles têm contato com redes criminosas mais complexas e, muitas vezes, passam a fazer parte delas.

Pesquisadores e agentes com experiência concretas à frente de cargos públicos chegaram a esta conclusão enquanto expunham as peculiaridades das diversas facetas da corrupção e do crime organizado no seminário Crime Organizado e Corrupção na Visão de Pesquisadores e Agentes Públicos, que ocorreu no dia 2 de setembro no IEA. O evento foi coordenado pelo cientista político Rogério Bastos Arantes, professor do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

A corrupção em altas esferas institucionais e o crime organizado têm uma intrínseca ligação, afirmou José Eduardo Cardozo. “Eu ousaria dizer que não há crime organizado sem que as autoridades estatais sejam corruptas. São vasos comunicantes”.

Crime organizado - mesa 1
Observada pela jornalista Maria Cecília de Oliveira Rosa, moderadora do debate, a pesquisadora Camila Dias expõe as conclusões de suas pesquisas sobre as relações entre o crime organizado e o sistema prisional. Ao seu lado, da esquerda para a direita, estão Gabriel Feltran e Bruno Carazza

Bruno Carazza, professor do Ibmec em Belo Horizonte e pesquisador do sistema político brasileiro e do financiamento das eleições, apresentou a lógica que está enraizada nesse cenário. “As características dos esquemas de corrupção envolvendo dinheiro de empresas e agentes públicos são sempre muito parecidas”, disse. “Seja em casos mais recentes, com as construtoras e empreiteiras, como no caso de Paulo César Farias, tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Mello”.

Os personagens, intermediários, métodos e objetivos se repetem ao longo do tempo, garante Carazza. “Há certos nomes que aparecem no caso PC Farias e nas listas recentes da Lava Jato, por exemplo. O que mudou foram os valores envolvidos: cresceram cada vez mais ao longo dos anos”.

Leia a íntegra do texto clicando aqui